PÂNCREAS

Pancreatite aguda

Elaborado por Dra. Ana Luiza Vilar Guedes - CRM/BA 22098 e Dra Adriana Ribas - CRM/BA 22787

O pâncreas é um órgão que fica dentro do abdome, atrás do estômago. Ele produz hormônios, como a insulina, e também libera enzimas necessárias para a digestão do alimento, como a lipase, que quebra as gorduras. A pancreatite é a inflamação do pâncreas e pode ser aguda ou crônica. 

Entre as causas de pancreatite aguda as principais são ingesta de álcool, presença de cálculo nas vias biliares (o cálculo pode migrar da vesícula e obstruir o ducto pancreático principal por onde passam as enzimas digestivas, com ativação das enzimas pancreáticas e inflamação subsequente), hipertrigliceridemia, hipercalcemia,  infecções virais, traumas do abdome, procedimentos como biópsias do pâncreas, realização de CPRE (exame endocópico contrastado das vias biliares) ou até mesmo uso de alguns medicamentos como azatioprina. 

Já a pancreatite crônica, a causa mais comum é a inflamação causada pela ingesta continuada de álcool, pancreatite autoimune, herança genética, desordens inflamatórias sistêmicas (como doença de Crohn) entre outras. 

A pancreatite aguda aparece de repente e o sintoma mais importante é a dor abdominal, principalmente na parte superior, podendo irradiar para a região das costas e piorar com a ingestão de alimentos. É frequente ainda ocorrer náuseas e vômitos. Alguns casos podem se apresentar com febre e aumento dos batimentos cardíacos.

Já a pancreatite crônica, pode ser assintomática ou o indivíduo pode apresentar dor abdominal, diarreia crônica, além de demais sintomas de disabsorção como gordura nas fezes, emagrecimento e carência de vitaminas lipossolúveis.

Para dar o diagnóstico, o médico deve casar o quadro clínico do paciente com exames de sangue e de imagem. Geralmente os exames de lipase e amilase encontram-se bastante elevados e a ultrassonografia ou a tomografia de abdome mostram edema (inchaço) do pâncreas, principalmente na pancreatite aguda.

O médico deve pedir um exame que avalie a presença de cálculo na vesícula. Inicialmente, é feita a utrassonografia e se não vier cálculo, um exame mais sensível, como o ultrassom endoscópico ou a colangioressonância (CPRM). Se for demonstrado um cálculo impactado, o paciente pode ser submetido a um exame chamado CPRE para retirada do cálculo. Se o paciente não tiver cálculos, deve ser investigado para outras causas de pancreatite aguda. Após a melhora clínica, o paciente que tem cálculos deve ser submetido à cirurgia de retirada da vesícula (colecistectomia) para evitar novo quadro de pancreatite. O paciente que tem níveis altos de triglicérides devem receber tratamento para baixar estes valores.

Na pancreatite crônica, além da dosagem das vitaminas, pesquisa de gordura nas fezes, elastase fecal, avaliação da glicemia/insulina, também é importante a realização de exames de imagem (tomografia, ressonância ou ultrassom endoscópico) que avaliem se há dilatação do ducto pancreático principal, alterações no parênquima, além da presença de cistos ou nódulos suspeitos (uma vez que o paciente com pancreatite crônica tem risco aumentado de neoplasia).

O tratamento da pancreatite aguda habitualmente é feito com hidratação intravenosa, jejum via oral e medicamentos para dor e náuseas. Quando o paciente já pode se alimentar sem dor, a dieta deve ser pobre em gorduras, para deixar o pâncreas em repouso. A maior parte dos casos é leve e se resolve logo, apenas com estas medidas.

Já o tratamento da pancreatite crônica versa sobre a eliminação dos fatores causais, a reposição adequada de vitaminas e enzima pancreática  além do controle da dor crônica com analgésicos.

Alguns pacientes com pancreatite aguda evoluem com um quadro mais grave, com necrose do pâncreas (devido à hiperativação das enzimas pancreáticas com destruição do órgão) necessitando de internação em UTI e até cirurgia. As complicações envolvem a formação de coleções no abdome (pseudocisto e necrose encapsulada), infecção do pâncreas, redução ou parada na função do rim e do pulmão nos quadros mais graves, e cada um destes problemas exige um tratamento específico.

Entre as complicações da pancreatite crônica destacam-se a evolução para diabetes mellitus e neoplasias. 

Fonte: UptoDate

Conteúdo meramente informativo. Siga as orientações dadas por seu médico assistente em consulta médica.

Informações de acordo com a Resolução CFM 1974/11

Pancreatite crônica

Texto

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Pancreatite autoimune (PAI)

Elaborado por Dra Maria Conceição Galvão Sampaio - CRM/BA 6725

É um processo inflamatório autoimune, onde o nosso sistema imune passa a agredir o pâncreas, podendo levar a alterações e danos a sua estrutura, seguido de alteração hormonal, causando diabetes e alterando a produção de enzimas que ajudam na digestão, causando diarreia.

Na doença auto-imune o próprio sistema imunológico do corpo ataca o pâncreas saudável. Ainda não se sabe o que desencadeia esse processo entretanto a PAI pode estar associada a outras doenças autoimunes, doenças renais e doenças inflamatórias intestinais. Não se sabe sobre o risco de desenvolver câncer de pâncreas. Esse risco parece ser semelhante a outras causas de pancreatite crônica.

É uma doença rara. No Japão foi demonstrada uma incidência de 1:100.000 habitantes, sendo mais comum em homens, acima da 6ª. década.

O paciente pode não apresentar sintomas (assintomático) ou pode cursar com dor de leve a moderada intensidade no abdômen, com irradiação para as costas. Um sinal comum é a presença de icterícia (olho amarelado), sem dor, que pode ser observado em até 80% dos casos. Podem apresentar discreta perda de peso, náuseas, associado ou não a episódios de pancreatite aguda ou pancreatite crônica. Episódios recorrentes de pancreatite aguda são presentes em até 25% dos pacientes.

Existem dois tipos de pancreatite auto-imune; 

Tipo 1 – Pancreatite autoimune associada ao IgG4 e está associada a outras doenças autoimunes, podendo afetar outros órgãos como os ductos biliares, glândulas salivares, rins e linfonodos. É mais frequente em homens, acima de 60 ano e apresentam episódios de pancreatite aguda mais frequente. 

Tipo 2 – Pancreatite autoimune sem afetar outros órgãos (específica do pâncreas). Cerca de 1/3 dos pacientes possuem doença inflamatória intestinal associada. Pode acometer tanto homens quanto mulheres e o IgG4 costuma dar baixo. 

Deve-se pensar em PAI naqueles pacientes com história clínica de episódios recorrentes de pancreatite, presença de icterícia (pele e olhos amarelados) e dor abdominal. Nos pacientes com história de outra doença autoimune e perda de peso também deve ser pesquisado. Como alguns pacientes apresentam aumento da cabeça do pâncreas em exames radiológicos (pâncreas em salsicha) é importante diferenciar de câncer no pâncreas. Outros órgãos podem ser afetados, como: glândulas salivares, vias biliares do fígado, pulmão, tireoide e os rins.

Exames de Sangue: Em relação aos exames complementares o principal exame laboratorial é a elevação de IgG4. Os níveis de amilase e lipase (enzimas do pâncreas) podem estar normais ou  levemente aumentados

Tomografia do abdomen: demonstra aumento do tamanho ou presença de massa pancreática em aproximadamente 80% dos pacientes 

Ultrassonografia Endoscópica: Consiste em uma endoscopia digestiva alta associada a uma ultrassonografia. Este exame visualiza o pâncreas e permite a realização de biópsia para o diagnóstico final. É considerado o melhor exame para detectar alterações incipientes de pancreatite crônica.

O tratamento específico é o corticóide. Os paciente melhoram os sintomas apesar de que pode haver recorrência após a suspensão da medicação. Os pacientes que melhoram com o corticóide podem ter a vida normal.

O paciente pode apresentar perda de peso devido a diarréia e dificuldade de absorver gorduras. Como compromete a parte hormonal pode apresentar diabetes.

  1. Okazaki K, et al. International consensus for the treatment of autoimmune pancreatitis. Pancreatology 2017; 17: 1-6
  2. Venkata S. Akshintala and Vikesh K. Singh. Management of Autoimmune Pancreatitis. Clinical Gastroenterology and Hepatology 2019;17:1937–1939
  3. Galvão-Alves José e Galvão Marta Carvalho. Pancreatite auto-imune. JBM  JANEIRO/FEVEREIRO, 2014 ; 102 (1): 17-22

Fonte: UptoDate

Conteúdo meramente informativo. Siga as orientações dadas por seu médico assistente em consulta médica.

Informações de acordo com a Resolução CFM 1974/11

Cistos/nódulos pancreáticos

Elaborado por Dr Jorge Guedes - CRM/BA 6741

Os cistos do pâncreas são bolsas de conteúdo liquido ou liquido-sólido que se encontram no órgão. A maioria dos cistos não precisa de tratamento médico, embora alguns mereçam avaliação mais detalhada com exames especiais, e alguns, raros, de cirurgia. 

Uma parte desses cistos são decorrentes de inflamação (pancreatite) e são chamados de pseudo-cistos. Podem ocorrer após um episódio de pancreatite com dor ou por exemplo após um trauma (pancada) na barriga. A maioria vai regredir espontaneamente e não precisará de intervenção médica. Só precisam de tratamento os grandes, que estão comprimindo outros órgãos, ou que causam dor. É sempre importante entender qual a causa da inflamação que os gerou, pois pode voltar a ocorrer. Assim, é a inflamação que o causou, e não o próprio pseudo-cisto, que merecerá a atenção do médico. 

Existem outros cistos que não são inflamatórios e que são descobertos por acaso quando o paciente vai fazer um exame de ultrassonografia, tomografia ou ressonância magnética por outra causa. Embora se chamem de cistos neoplásicos a maioria deles é benigna. 

Entre os cistos neoplásicos mais benignos estão os chamados cistoadenomas serosos. Eles são como cachos de uva, com várias pequenas cavidades cheias de liquido separada por membranas ou septos finos. Nunca vão evoluir para câncer.e muito raramente vão crescer. Em geral com o exame de imagem já se fecha o diagnóstico, não exigindo nenhum outro cuidado.

Já outro tipo de cisto, o cistoadenoma mucinoso, acomete mais mulheres na meia idade. Ele é formado por uma ou poucas cavidades cheias de liquido gelatinoso, a mucina. Muitas vezes tem uma espécie de casca fina calcificada, como uma casca de ovo em torno. Esse cisto é perigoso porque pode evoluir para o câncer. Se a paciente tem boas condições de saúde pode ser indicada uma cirurgia.

Existem ainda cistos que brotam dos pequenos canais (ductos) do pâncreas. Estes cistos são chamados de neoplasias intraductais mucinosas ou IPMN. Alguns deles, sobretudo os que se originam do próprio canal principal do pâncreas, podem se tornar cancerosos. Na dependência do tamanho e do fato de causar obstrução do canal principal, ou pancreatite, eles podem precisar de cirurgia. São as IPMN tipo I. Já os outros, que brotam dos canais menores, chamados secundários, podem ser acompanhados sem intervenção, sobretudo se forem pequenos. São as IMPN tipo II.

Em geral, os cistos pancreáticos são assintomáticos, exceto quando crescem exageradamente e comprimem demais estruturas ou órgãos. 

Para chegar aos diagnósticos, nos cistos que têm chance de complicar, podem ser necessários outros exames e às vezes até uma punção de agulha fina, através de um exame chamado ecoendoscopia. Esse é um exame que é feito com um aparelho tipo endoscópio e que tem um ultrassom na ponta. O exame é feito sobre sedação e uma agulha é introduzida através do endoscópio no cisto para tirar o líquido para estudo. O líquido pode ajudar a dizer se há um processo de risco de câncer, para indicação cirúrgica.

O importante é saber que a maioria dos cistos é benigna e não vai precisar de maiores cuidados, embora muitas vezes seja necessário o acompanhamento desse tipo de lesão com exames periódicos, como a ressonância magnética do abdômen. É importante confiar no seu médico e seguir as recomendações que ele fizer.

Fonte: UptoDate

Conteúdo meramente informativo. Siga as orientações dadas por seu médico assistente em consulta médica.

Informações de acordo com a Resolução CFM 1974/11